Compreendo que nos meios generalistas, se referiu que "uns surfistas" ajudaram ou tentaram ajudar nesta situação...mas na verdade foram bodyboarders, mas mais do que isso foram BODYBOARDERS LOCAIS! Podem numa primeira análise pensar, qual a importância disso?? Que me desculpem, mas perante as dezenas de salvamentos anuais realizados por este grupo de pessoas, penso que o mínimo é lhes darem o crédito devido.
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| imagem ilustrativa! Nada a ver com os factos relatados! |
Passando ao assunto especifico que me leva a escrever este texto! Irei dividir este texto em 3 partes, dada a complexidade da questão:
1 - O antes de dia 6 de Outubro...
Nos vinte e tal anos que faço bodyboard, foi sempre uma constante, o facto do pessoal do grupo de bodyboarders locais fazer salvamentos, o que dentro de certos limites até é natural! Muitas vezes por estarmos fora da época balnear, outras vezes por alguma distracção de um nadador salvador (acontece com qualquer humano)...e outras (não vamos mentir) por incompetência dos mesmos.
Claro que quando somos mais novos, não pensamos muito nisso! Mas passando alguns anos à frente e quando começamos a nos organizar como um clube, já era de consenso geral que, uma praia como esta, merecia melhor aposta na segurança do que a feita até ao momento! A forma como as coisas eram (são...) feitas, não estava a ser a adequada e por força da razão teríamos de estar sempre preparados para o pior...
- Relembramos que em Maio de 2012, promovemos um workshop de Suporte Básico de Vida/Técnicas de Salvamento, em conjunto com a associação RESGATE. Sendo que em 2018 tivemos outro agendado, que por falta de agenda, ficou agendado para realizar em 2019.
O que demonstra que a nossa preocupação e constante necessidade de salvar banhistas, nos fez passar aos actos, e tentamos dotar o pessoal com algum conhecimento extra (que pudesse fazer a diferença).
- Pouco tempo depois, dois bodyboarders locais, com a ajuda de um surfista (bem conhecido da nossa televisão), fizeram um salvamento, que se tornou mediático, pois Zora Lutz (alemã de 15 anos) sobreviveu após 12 dias de coma. Isto adivinhem em que mês... Outubro!
- O ano passado, um bodyboarder local agravou sériamente um lesão que tinha, ao fazer um salvamento, sendo que 1 ano depois, e após bastante dinheiro gasto em fisioterapia... as melhoras nunca chegaram a ser 100%! Mais uma vez, esta salvamento (bem dificil) aconteceu no mês de Outubro.
- Nas duas últimas reuniões (2018/19) que tivemos no Município de Odemira, referimos mais uma vez nossa preocupação com o perigo da época balnear tão curta, bem como o nosso desagrado acerca dos constantes resgates feitos por "nós".
2- Os acontecimentos de dia 6 de Outubro...
Ao contrário do referido por alguns jornais, quando toda a situação se iniciou. não havia bodyboarders na àgua! Tínhamos estado na agua até perto das 13:30h, mas com a maré vazia demais (para o mar que estava), todos já tinham saído.
O único bodyboarder na praia era o Maksim, simplesmente a passear e sem prancha. Sendo que num primeiro instante, tentou indicar aos dois banhistas para onde tinham de nadar, de modo a tentarem sair pelas pedras.
Quando viu que não iriam conseguir, foi a correr buscar uma prancha.
Todos os outros bodyboarders que estiveram presentes na tentativa de restate, estavam almoçar (uns em casa, outros no Praia Café) e foram alertados por o pessoal do Café Rita e do Sunset Café!
Sendo assim, no meu caso pessoal, sai de carrinha o mais rápido que pude e corri para a praia, onde entrei no canto que me indicaram o afogamento estar a acontecer.
Quando cheguei à ponta da pedra (e sem avistar qualquer pessoa), vi o Maksim também com prancha e o Fábio Glória a tentar indicar-nos a localização de cima das pedras!
Conseguimos perceber a pessoa em questão (isto porque na altura pensávamos de se tratar somente de uma pessoa) não tinha dado a volta a pedra, pois nessa zona conseguiria já estar de pé e portanto seria facilmente avistada.
Voltei a remar para fora acompanhado do Maksim, para tentarmos localizar algo no meio da muita espuma que enchia a baía. Tínhamos remado uns poucos metros, quando o Fábio Glória avistou a rapariga (inconsciente), sendo arrastada para cima das pedras! Usamos uma prancha como maca e transportamos a rapariga para um lugar seguro onde iniciamos o procedimento de Suporte Básico de Vida (ajudados por um cidadão estrangeiro que se ofereceu para ajudar).
Estava ao telefone com o médico do 112, quando nos alertam para uma segunda vitima (algo que no meio da confusão, muitos não sabiam da existência) inconsciente no meio da espuma! Fui novamente para dentro de àgua, juntamente com o Fábio Glória e foi também nesta altura que se juntou a nós o André Gonçalinho, sendo que transportamos a vitima para outra rocha e mais uma vez, com ajuda de outras pessoas, iniciamos o Suporte Básico de Vida.
Ficamos à espera da ambulância, divididos em dois grupos sem parar o procedimento de "suporte básico de vida"! Devido à maré a encher, tivemos de avançar com uma das vitimas para a pequena zona de areia mais à frente, enquando a outra vitima, permaneceu sempre nas rochas!
Passado algum tempo (não sei precisar), uma das vitimas teve acesso a uma mala com desfibrilhador e alguns meios mais, que um enfermeiro (que estava por perto) usou na primeira vitima! Demorou um pouco mais até a segunda vitima ter acesso aos mesmos meios, mas chegou uma segunda mala com os mesmos meios! Nesta fase convém referir que estava também conosco um membro do ISN que tomou conta das operações numa das vitimas, juntamente mais tarde com alguns bombeiros!!
Algum tempo depois a primeira vitima foi transportada pelas rochas até a um veiculo na praia, enquanto a segunda aguardou pelo helicóptero fazer um resgate mais seguro! Nesta fase apareceu no outside uma mota de àgua do ISN e um barco....que por lá ficaram, sem se perceber muito bem qual a ideia!
Pouco depois, em Odemira, foi declarado o óbito de ambas as vitimas!
3- O pós-tragédia
Muitas perguntas no assolaram sobre esta tarde fatídica tarde...!!
- A primeira tem a ver claro, com o facto de não terem aproveitado os vários alertas de um grupo de pessoas que tem um "know how" desta praia, muito profundo, o que é sempre uma mais valia! E pensamos que pode marcar a diferença no futuro! Estamos, portanto, dispostos a colaborar com o Múnicipio de Odemira, ISN, Capitania de Sines, etc...sobre algumas soluções para o problema. Algo que iremos fazer numa reunião que gostariamos de marcar brevemente com quem de direito.
- Outra pergunta tem a ver com gestão dos meios! Em dois aspectos!Será por exemplo que, um helicóptero levantar voo do Montijo (o que pode voltar a ter de acontecer) não dará para pagar estes meses extra aos nadadores salvadores!? Pelo que tivemos acesso, é bem possível! Outro aspecto é... possivelmente é uma questão de protocolo.... mas, com as condições do mar nesse dia, e os operacionais conhecendo o terreno...terá lógica mandar um barco e uma mota de àgua deste Vila Nova de Milfontes até à Zambujeira do Mar para ficarem a boiar no outside.... pareceu-nos sinceramente um desperdício de meios/dinheiro, neste caso em especifico!
- Onde está o tão falado projecto ZORA, que teve o seu nome devido ao salvamente nesta praia!? Muito mediatizado na altura! Perdeu-se porque neste momento temos cá outra associação de nadadores salvadores, e esse projecto era da anterior (até a´compreendemos), mas não haveria interesse de todos em trabalharem em conjunto e por agora, até se solucionar este problema, alguem ter um kit de suporte básico de vida, etc!? Fica o apelo a ambas as associações de nadadores salvadores!
Em jeito de conclusão, iremos continuar a salvar pessoas certamente, pois aqui, todos os dias temos bodyboarders na àgua, e irá acontecer! Mas isso não pode ser a norma, por vezes há semanas em que os salvamentos foram diários (incluindo com nadadores salvadores presentes), e outras vezes com frequência semanal ou mensal! Isto não pode acontecer com tanta frequência...não é o nosso trabalho!!
Esta praia tem características especiais (digamos assim) e merece uma atenção especial!
Temos algumas propostas bastante pertinentes, nas quais estamos dispostos em trabalhar em conjunto com as entidades responsáveis....esperemos que nos oiçam desta vez...não queremos ver mais ninguém morrer nesta praia que tantas alegrias nos dá!
João Mendes (presidente do NBZM)
